Cada monge, cada meditador que cheio das mais puras
intenções cultivasse a bondade, o altruísmo e o amor por todos os seres,
contribuiria para o mundo, em termos de energia mental, da mesma forma que cada
árvore contribui em relação ao oxigênio que respiramos. Meu pai sempre defendeu
tal ideia.
É claro que a ação é indispensável, porém mesmo ela,
inevitavelmente, surgirá como resultado de pensamentos e sentimentos. Mas nas
redes sociais e nas tramas da vida real o que vemos ganhando força e voz é o
ódio em suas mais diferentes faces. Temos, de um lado, a estúpida e cruel
materialização do mal nas ações terroristas - para as quais todas as câmeras e
olhares estão apontando nos últimos dias. E de outro, o individualismo covarde do
cidadão médio que espuma de raiva ao se deparar com tudo o que não lhe é
espelho. Com o que pretendemos combater a barbárie dos assassinos de inocentes
anônimos? Com mais ódio e intolerância?
Conta-se que um tibetano, após anos vivendo como prisioneiro
na China, afirmou - sobre sua experiência no cárcere - que se sentiu em perigo
apenas algumas vezes. Quando perguntado sobre o tipo de perigo que enfrentou,
respondeu que correu por momentos o risco de perder a compaixão que sentia por
seus algozes.
Se pegarmos uma fração da atenção que despendemos cotidianamente
sobre os nossos inimigos e a redirecionarmos para dentro de nós mesmos, quanto
de compaixão ainda conseguiremos encontrar?