Bressane disse que “olhamos para a tela hoje como olhamos antes para o céu”. Ele se referia ao cinema, mas quando pensamos na soma de telas que nos ocupam a visão, vemos que é ainda maior a transformação. As telas pedem um olhar diferente do que mirava o céu. Raso, inquieto, compulsivo. Assim, não trocamos apenas o céu pela tela, trocamos a própria forma de olhar.
Em um retiro de meditação, sem tela alguma à disposição,
resta o céu. No entanto, olhamos para ele com os olhos treinados pelas telas. É
preciso algum tempo para se reaprender a observar uma nuvem, uma formiga,
folhas que balançam com o vento.
Mas como o que estamos fazendo, com todo esse silêncio e
essa observação da respiração, é rumar ao encontro do que pode haver de mais
natural, o processo vai ganhando força por si mesmo e pouco a pouco os outros
sentidos também vão despertando. Percebemos, então, o óbvio: a chuva tem som e
cheiro, assim como também os têm os dias ensolarados. E isso nos diz respeito,
nos fala sobre nós mesmos.
Meditar é um pouco isso, descobrir que até então estávamos
muito agitados e dispersos para percebermos as pequenas verdades sobre nós
mesmos sussurradas pela chuva.