quarta-feira, 7 de outubro de 2015

A tela e o céu






Bressane disse que “olhamos para a tela hoje como olhamos antes para o céu”. Ele se referia ao cinema, mas quando pensamos na soma de telas que nos ocupam a visão, vemos que é ainda maior a transformação. As telas pedem um olhar diferente do que mirava o céu. Raso, inquieto, compulsivo. Assim, não trocamos apenas o céu pela tela, trocamos a própria forma de olhar.

Em um retiro de meditação, sem tela alguma à disposição, resta o céu. No entanto, olhamos para ele com os olhos treinados pelas telas. É preciso algum tempo para se reaprender a observar uma nuvem, uma formiga, folhas que balançam com o vento. 

Mas como o que estamos fazendo, com todo esse silêncio e essa observação da respiração, é rumar ao encontro do que pode haver de mais natural, o processo vai ganhando força por si mesmo e pouco a pouco os outros sentidos também vão despertando. Percebemos, então, o óbvio: a chuva tem som e cheiro, assim como também os têm os dias ensolarados. E isso nos diz respeito, nos fala sobre nós mesmos. 

Meditar é um pouco isso, descobrir que até então estávamos muito agitados e dispersos para percebermos as pequenas verdades sobre nós mesmos sussurradas pela chuva.