Queria ter acordado
hoje e saído por ruas que não conheço, observado hábitos que não são meus,
escutado línguas que não domino.
Ruas desconhecidas me
fazem atento para não me perder. Costumes estranhos me ensinam sobre
possibilidades de se ser humano de formas diferentes.
E, assim, de olhos e
ouvidos abertos, se caminha por terras outras que não as suas.
Por isso, a posse, tão
buscada e festejada em nosso pequeno mundo, é sempre empobrecedora. “Minha casa”,
“minha rua”, “meus costumes”. E, em meio a tantas coisas minhas, fico tão confortavelmente
relaxado que não preciso mais olhar e ouvir.
Um dia qualquer, ainda
acabo me pegando irritado por ouvir alguém defender uma ideia que não é a
minha. “Como ousa?”, eu pensaria diante do que não me pertence. E antes que isso
aconteça, sinto que preciso viajar pra longe, mesmo já sabendo ser um erro esse
sentir. Erro, pois todo canto está cheio de caminhos, palavras e ideias que me
escapam. Mas enxergar e ouvir o diferente dentro do “meu” território é tão
difícil. É preciso se desacostumar, se desapegar e, principalmente, estar
presente.
Sento, fecho os olhos
e observo a respiração.