terça-feira, 17 de março de 2015

Viajar para longe



Queria ter acordado hoje e saído por ruas que não conheço, observado hábitos que não são meus, escutado línguas que não domino. 

Ruas desconhecidas me fazem atento para não me perder. Costumes estranhos me ensinam sobre possibilidades de se ser humano de formas diferentes. 

E, assim, de olhos e ouvidos abertos, se caminha por terras outras que não as suas.

Por isso, a posse, tão buscada e festejada em nosso pequeno mundo, é sempre empobrecedora. “Minha casa”, “minha rua”, “meus costumes”. E, em meio a tantas coisas minhas, fico tão confortavelmente relaxado que não preciso mais olhar e ouvir. 

Um dia qualquer, ainda acabo me pegando irritado por ouvir alguém defender uma ideia que não é a minha. “Como ousa?”, eu pensaria diante do que não me pertence. E antes que isso aconteça, sinto que preciso viajar pra longe, mesmo já sabendo ser um erro esse sentir. Erro, pois todo canto está cheio de caminhos, palavras e ideias que me escapam. Mas enxergar e ouvir o diferente dentro do “meu” território é tão difícil. É preciso se desacostumar, se desapegar e, principalmente, estar presente.

Sento, fecho os olhos e observo a respiração.